Era da hiperinformação e fake news: 43% dos jovens que usam a internet não sabem checar se uma informação é verdadeira ou falsa

Quase a metade. É a proporção de crianças e adolescentes de nove a 17 anos com acesso à internet no Brasil que não sabe identificar se as efêmeras e incontáveis informações que recebem todos os dias no ambiente on-line estão corretas.
Os resultados da pesquisa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgados em 2022, não são muito diferentes: 67% dos jovens brasileiros de 15 anos não conseguem distinguir fatos de opiniões.
Um estudo da Universidade Comenius, na Eslováquia, publicado também no ano passado, no Frontiers in Psychology, revela que os jovens consideram as características estruturais do meio emissor, como aparência e idioma de um site, por exemplo, para determinar a confiabilidade de uma notícia.
Esses dados mostram o quanto é urgente e fundamental incluir a educação midiática na grade curricular das escolas. Para a pesquisadora e doutora em comunicação e semiótica Magaly Prado, fomentar uma relação mais saudável e consciente dos jovens com a internet deve ser um compromisso de empresas e famílias, mas o papel dos educadores é indispensável: “As escolas deveriam colocar a educação midiática no currículo fixo, em todos os estágios de aprendizado. Não basta mostrar como a internet funciona ou como os algoritmos se comportam, é necessário alertar para os perigos da desinformação, mostrar quando é preciso desconfiar e propiciar o pensamento crítico contínuo”, enfatiza ela em entrevista concedida ao jornal Folha de São Paulo no início deste ano.
O professor Irineu Barreto, pesquisador em Ciências Sociais e Ciência Política, com foco em Direito e Sociedade da Informação, e autor da Saraiva Jur., ressalta ainda a importância de não confundir fake news com mentiras. “As fakes news, na verdade, são estratégias comunicacionais planejadas desde a gênese do conteúdo. Esse conteúdo serve também para capturar a atenção, ou seja, moldar a agenda pública (…) são estratégias comunicacionais muito sofisticadas, desde o seu planejamento até a disseminação desse conteúdo. Até o momento em que essas mensagens chegam a todos nós, usuários das Tecnologias de Comunicação e Informação, as chamadas (TICs). A desinformação é um fenômeno da sociedade da informação. A desinformação se utiliza, se aproveita da conexão - eu chamo até de hiperconexão, todos nós estamos hiperconectados”, esclarece.
Ele destaca também a relação entre desinformação, fake news e ascensão de grupos políticos extremistas em todo o mundo: “Essas estratégias de desinformação foram capturadas de uma forma muito eficaz por esses grupos extremistas. Como exemplo: infelizmente, uma ascensão de grupos neonazistas que existem na Alemanha. Na verdade, sempre existiram desde muito tempo, nunca deixaram de existir. Mas hoje eles ganham volume, visibilidade, apoiadores e adquirem peso no debate público, no debate político. Estou me referindo ao nazismo porque é uma marca universal associada ao ódio, associada a um projeto político voltado a exterminar um outro grupo étnico”.
O secretário João Brant, da Secretaria de Políticas Digitais, ligada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), entende que a formação digital deve ser mais abrangente. Segundo ele, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já prevê o tratamento do tema de forma transversal: ”Nós apostamos muito na educação midiática tanto do ponto de vista formal como informal. Tanto em parceria com o MEC, na articulação com as secretarias de Educação, quanto em relação às atividades de promoção de cursos, oficinas, conteúdos mais rápidos como chave para o enfrentamento do problema da desinformação no país”.
Vale lembrar que a primeira edição da Semana Brasileira de Educação Midiática aconteceu de 23 a 27 de outubro de 2023, como parte do projeto de formulação da Estratégia Brasileira de Educação Midiática (EBEM).
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