Cidadania é o conjunto de direitos e deveres civis, políticos e sociais, exercidos por quem vive em sociedade. E a educação tem atribuições fundamentais e decisivas na formação do cidadão responsável - que pensa de acordo com os interesses comuns e tem consciência de suas tarefas e compromissos com um mundo melhor.

Pode parecer um comportamento simples e espontâneo, mas precisa - e deve - ser aclarado e ensinado.

"O conhecimento dos direitos e obrigações nem sempre se dá de forma clara para o exercício da cidadania. As lacunas da educação básica na formação integral do indivíduo interferem na consciência política, social e civil, limitando o conceito de cidadania e, consequentemente, o seu exercício pleno”, explica Vanderlea Bigossi Aragão, mestre em Sociologia Política e Coordenadora Acadêmica da Faculdade Pitágoras de Guarapari, no Espírito Santo, uma das marcas do Grupo Kroton.

Sendo o papel da escola determinante nessa formação, os professores podem criar várias iniciativas e recorrer a diversas atividades para estimular os alunos a pensarem e, posteriormente, atuarem como cidadãos responsáveis: "É importante a criação de debates, seminários e fóruns, bem como a ampliação de projetos de extensão que visem a aproximação do aluno com a realidade social e comunitária. Conhecer a Constituição Federal, discutir o cenário atual e aprofundar temas como direitos humanos, democracia e desigualdade social contribuem para a conscientização política e evitam distorções de premissas básicas, como a garantia do direito a ter direitos, igualdade e equidade, e justiça social”, aponta ela.

Em contrapartida, a modernidade traz outro desafio às salas de aula: o individualismo. Para Vanderlea, "a falta de senso de coletividade, bem como discursos e ideias que invoquem a violação dos direitos humanos, devem ser combatidos no ambiente acadêmico por meio da educação: estudo, discussões, palestras e debates que levem ao aprofundamento dos temas coletivos e sociais. A faculdade deve ter esse compromisso na formação integral do cidadão, contribuir na construção do senso coletivo e crítico, e trabalhar temas sociais na interdisciplinaridade”.

A estratégia é fomentar o desenvolvimento de pensamentos fundamentados e mais abrangentes. "A visão fragmentada é frágil e não se sustenta. Criar uma base sólida de conhecimentos político-sociais é o caminho para a organização de uma sociedade justa e igualitária”, complementa ela.

E não é só essa adversidade que o mundo contemporâneo coloca diante dos educadores quando o tema é cidadania. A era da hiperinformação exige, mais do que nunca, a ampliação do planejamento de ensino para além da sala de aula: "A era da hiperinformação traz grandes desafios, uma vez que as informações são cada vez mais superficiais, voltadas muitas vezes para a manipulação e às distorções ideológicas. As desastrosas fake news e teorias conspiratórias são sérias ameaças à democracia e aos direitos humanos, e devem ser combatidas em todos os espaços comunicacionais, sejam eles virtuais ou não”, argumenta Vanderlea.

Entretanto, segundo ela, há vias para mitigar os efeitos catastróficos causados pelo rápido e vasto alcance do desconhecimento: ”O combate à desinformação e às notícias falaciosas com argumentos científicos e racionais é uma forma de usar as mídias sociais e os aplicativos de comunicação instantânea a favor da cidadania”, ilustra.

"Vivenciamos um momento complexo na pandemia, quando circularam diversas informações falsas a respeito de mortes, vacinas e até mesmo sobre o uso de máscaras, levando muitos a cometer o erro de não se prevenir, de tomar decisões prejudiciais que levaram muitos ao óbito, tornando o cenário pandêmico ainda mais caótico. É fundamental conscientizar as pessoas sobre a importância de identificar mensagens falsas e estancar o seu reenvio, como também criar grupos de alertas para essas informações infundadas. O senso crítico e analítico é uma arma para a identificação e o combate à desinformação e à pós-verdade”, completa Vanderlea.