Privados de liberdade recebem bolsas de estudo para graduação

O Brasil tem a 3ª maior população carcerária do mundo, com 748 mil detentos, segundo dados de 2019 do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen). Deste total, apenas 16,53% participam de alguma atividade educativa. Felizmente, algumas iniciativas atuam para oferecer aos internos maiores oportunidades de estudo.
Uma delas é realizada em conjunto entre a Fundação Pitágoras, a Kroton Educacional e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A parceria entre as instituições visa o desenvolvimento de ações e projetos voltados à promoção da cidadania para as pessoas privadas de liberdade, egressos do sistema prisional e servidores penais. Um dos objetivos dessa parceria é oferecer bolsas de estudos integral na graduação para homens e mulheres alocados nas penitenciárias e APACs (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados).
Já Tânia Mara Nogueira, Vice-Presidente da Fundação Pitágoras, explica que as pessoas que trabalham com Educação devem ter um olhar especial aos “invisíveis” da nossa sociedade, incluindo a população carcerária, composta em sua maioria por jovens, negros e periféricos que não tiveram oportunidade de acesso a uma educação de qualidade e acabaram evadindo para a criminalidade. Ela reforça ainda que oferecer uma bolsa de estudo para essa população é oportunizar uma profissão e uma oportunidade de acesso a uma nova vida após a saída da prisão. “Além disso, também estaremos preservando a sociedade em geral de mais violência”, destaca.
Uma oportunidade de mudar a realidade
Agora que concluiu o curso de Empreendedorismo, ele sonha em abrir seu próprio restaurante, unindo o conhecimento técnico e sua paixão pela cozinha.
Embora seja uma iniciativa fundamental para mudar a realidade da população carcerária, ela não vem sem desafios. Segundo Maria Aparecida Lima, responsável pela área da educação e profissionalização nas APACs, a maior dificuldade para viabilizar o projeto é conseguir a documentação escolar dos recuperandos, pois muitos deles não têm o histórico escolar, tornando necessário contatar as instituições onde eles cursaram o ensino médio. A tarefa, que já era desafiadora, foi agravada pelo fechamento das escolas neste período de pandemia.
Mesmo diante das dificuldades, Maria Aparecida orgulhosamente afirma que cerca de 70% dos internos das APACs participam de alguma atividade educacional. Além das bolsas de graduação, dentro das APACs eles recebem cursos profissionalizantes realizados em parceria com outras instituições de ensino. Essa realidade, no entanto, ainda é a exceção dentro do sistema prisional brasileiro, como demonstram os números já apresentados neste artigo.
Todos esses dados reforçam a necessidade de enxergar a população carcerária além do crime que cometeram, buscando oferecer oportunidades para que os internos possam ter a opção de sair da criminalidade ao retornar para o convívio social. “É muito importante que eles recebam a oportunidade de estudar e de exercer a profissão. Infelizmente, ainda existe muito preconceito na sociedade em relação a quem passou pelo sistema penitenciário”, conclui Maria Aparecida.
*Nota: utilizamos as iniciais do entrevistado para preservar sua identidade.
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