O Decálogo dos Pais: Claudio de Moura Castro
Claudio de Moura Castro
Pais mais educados tendem a ter muito mais competência para preparar seus filhos para funcionar com sucesso na escola. Mas mesmo pais menos educados podem fazer muito por eles.
Queiramos ou não, os pais e as escolas compartilham a mesma empreitada de educar os alunos. Em parceria, os pais podem contribuir, se conhecerem as regras do jogo e se dedicarem com afinco à sua parte.
Em casa, os pais podem ajudar os filhos de muitas maneiras. Vejamos as perguntas que deve fazer a si próprio:
1. Converso com meus filhos com frequência? Sugiro que estabeleçam metas pessoais para sua própria educação? [As pesquisas mostram a importância destas conversas, mesmo que não sejam sobre educação].
2. Acompanho minuciosamente o boletim escolar – que é a fotografia do seu desempenho? Ouço os filhos, para saber se estão sendo educados com competência, desvelo e justiça? [O pai pode não entender de educação, mas descaso e displicência ele sabe detectar].
3. Promovo leituras em voz alta? Trago para casa leituras que meus filhos acham interessantes? [Não servem, se não capturam a sua curiosidade. Não há bons alunos que não sejam também bons leitores. A leitura e a escrita são os fundamentos da educação. São as ferramentas usadas pela educação escolar].
4. Crio, mesmo com sacrifício, o espaço físico e a tranquilidade necessária para os filhos estudarem? Abro mão de meus confortos e conveniências para criar o silêncio indispensável?
5. Administro a TV, para que não conflite com os estudos? [Pesquisas mostraram alunos vendo mais horas de televisão por dia do que estudam por semana. Não se trata de discutir se a TV é prejudicial em si mesma, mas de preocupar-se com as horas que rouba dos estudos. Ademais, se a TV está ligada na hora das crianças fazerem seus deveres, isso pode prejudicar].
Na escola, não é menor o papel dos pais. Podem e devem cobrar resultados. E podem tornar desconfortável ou insuportável a vida de quem lá está atrapalhando ou deixa de fazer a sua parte. Eis as perguntas que um bom pai deve fazer à escola:
1. O professor passa dever para casa? Corrige? Discute os erros e acertos com os alunos? [O “para casa” é uma continuação do processo escolar. E bem sabemos que quanto mais tempo se passa estudando, mais se aprende].
2. Vai à escola indagar e tentar entender o que está acontecendo? Aprende como e por que a escola avalia, aprova e reprova os alunos? Sabe o que é o IDEB? Conhece as normas disciplinares? Busca estabelecer parcerias produtivas com os professores que educam seus filhos? Nas visitas, verifica se a escola está bem cuidada? Os banheiros estão limpos? Há vidraças quebradas? [Escola descuidada é sintoma de enfermidades mais graves].
3. Acompanha a vida da escola, para ver se os professores faltam ou chegam atrasados? [Se há greves ou não há aulas, as causas de tais desarranjos são problemas da escola, não seus. O assunto do pai é cobrar a falta de aulas].
4. Cobra dos professores ou do diretor, quando a escola não atende às condições mínimas descritas acima? No caso do ensino público, reclama com o Secretário de Educação, quando a política atrapalha o ensino, por levar à escola diretores, professores ou funcionários com perfis inadequados? Está disposto a acampar em frente à casa do Diretor ou Secretário, se os outros métodos não funcionam? [Se a escola conhece a férrea disposição dos pais para protestar, isso já se constitui em mecanismo de pressão para resolver os seus problemas e dissuade os políticos de meterem o bedelho onde não devem. Mas é preciso energia e persistência].
5. Apoia os professores dedicados, com palavras e atos? [Os bons professores têm que ser ajudados e prestigiados. Sua missão é preciosa demais para não ser reconhecida com generosidade. Mas os maus professores devem ser questionados com insistência].
Se os pais seguirem este decálogo, as consequências seriam mais benéficas do que qualquer plano de educação feito pelo governo.

Claudio de Moura Castro (1938) é um economista brasileiro, atualmente preside o Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras e é Diretor de Novas Metodologias da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana. É graduado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre pela Universidade Yale e doutor pela Universidade Vanderbilt. Castro foi professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, da Fundação Getúlio Vargas, da Universidade de Chicago, da Universidade de Brasília, da Universidade de Genebra e da Universidade da Borgonha. Trabalhou no Banco Mundial e no Banco Interamericano de Desenvolvimento, presidiu a CAPES de 1979 a 1982, foi secretário-executivo do Centro Nacional de Recursos Humanos de 1982 a 1985 e técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada de 1970 a 1985, conhecido como conservador e adepto do liberalismo, tem uma coluna quinzenal na revista Veja desde setembro de 1996, e escreve sobre educação no Brasil.