Palíndromo: As transformações do espaço da educação - Prof. Evando Neiva
Artigo Publicado em: 20 Desembro 2020
“COM A ‘CARTA DO CAMINHO’ QUEREMOS CONTRIBUIR PARA A TRAVESSIA DO BRASIL QUE TEMOS PARA O BRASIL QUE QUEREMOS E PODEMOS SER”.
ANTONIO CARLOS GOMES DA COSTA
“É preciso toda uma aldeia para educar uma criança”.
(Provérbio Africano)
As transformações do espaço da educação
O ESPAÇO DA EDUCAÇÃO NA SEGUNDA METADE DO SÉC. XX
Quando o assunto é educação, qualidade para poucos não é qualidade, é privilégio.
O que resulta é o efeito perverso da exclusão e da desigualdade social, levando a conflitos e confusões intermináveis.
Esse era o espaço da educação brasileira ao final do século passado. Havia uma cegueira ao constatar que tínhamos escolas públicas de qualidade: as “escolas de excelência” da época eram inacessíveis à esmagadora maioria das crianças e dos jovens do país.
Esse equívoco permanece até hoje para alguns. Na ânsia de melhorar a qualidade da educação (especialmente na escola pública brasileira, onde se encontram mais de 90% das matrículas da educação básica). É frequente a proposta nostálgica: “vamos resgatar a escola pública que existia”.
O Brasil era um país manco. A “escola de qualidade” que existia há quatro ou cinco décadas era perversamente excludente. Os recursos públicos eram concentrados em poucas escolas para uma minoria. Uma imensa legião de crianças e jovens brasileiros ficava à margem.
O estranho paradoxo de sermos hoje um país desenvolvido e injusto fica bem compreendido.
Nesse espaço enviesado foi gestado o Brasil que temos. Mas é possível e necessário formatar outro espaço para o Brasil com que sonhamos.
UM NOVO ESPAÇO SE CONFIGURA
A nova qualidade que está em gestação tem premissas claras, ainda que possa ser complexa sua concretização. Eis algumas premissas que configuram o espaço da educação neste início do séc. XXI:
O poder público sozinho não é suficiente.
Torna-se indispensável a formação de uma Aliança Intersetorial, mediante um comprometimento compartilhado entre Poder Público (I setor), Empresas (II setor) e Fundações (III setor).
A nova qualidade tem que ser para todos, devendo ser construída em escola por escola, com um diretor fortalecido e apoiado pela Aliança.
O diretor deve ser suficientemente forte, para ser fraco o bastante para que os professores sejam fortes.
Os professores devem ser suficientemente fortes, para serem fracos o bastante para que os alunos sejam fortes.
Os alunos devem ser a principal força de trabalho na escola.
O foco no ensino deve ser substituído pelo foco na aprendizagem.
As escolas devem compartilhar as suas melhores práticas pedagógicas e de gestão.
Os pais devem ser os parceiros primordiais das escolas.
A escola só é boa quando o aluno aprende.
Por isso mesmo os indicadores de aprendizagem devem ser sistematicamente aferidos e compartilhados.
O progresso deve ser reconhecido, premiado e celebrado.
Nenhum setor isolado, muito menos nenhum ser iluminado, dá conta sozinho desse conjunto de premissas.
Por isso criamos a Conspiração Mineira pela Educação, em agosto de 2006, para dar uma contribuição no processo de mudança.
Precisamos trabalhar e respirar juntos.
Para ter qualidade para todos, precisamos de todos pela qualidade.
Não é simples nem fácil, mas vale a pena.
CINCO REGIÕES DO NOVO ESPAÇO
Logo nos primeiros encontros da Conspiração, contando com uma centena de diretores de escolas públicas de entorno da Cidade Administrativa (que ainda era um projeto), conseguimos explicitar a essência da mudança para uma nova qualidade almejada.
Aqueles diretores (fundadores da Conspiração), de forma consensada e iluminada, escolheram cinco prioridades:
Pacificação da escola.
Motivação dos professores.
Motivação dos alunos.
Integração família-escola.
Melhoria dos indicadores de aprendizagem.
Melhoria dos indicadores de aprendizagem.
Essas dimensões são entrelaçadas, sinalizando os caminhos para a transformação da escola, no novo espaço de qualidade.
A principal agenda da Conspiração é o Fórum de Diretores – encontro mensal com uma tarde de duração, em que se buscam o fortalecimento da liderança do diretor e o intercâmbio das melhores práticas, tendo em vista as cinco dimensões do estado nascente do movimento.
Nesses fóruns, as escolas aprendem umas com as outras. Estamos atuando sistematicamente em 66 municípios, envolvendo 783 escolas públicas e beneficiando 332.074 alunos. Estamos honrando os desígnios de Antonio Carlos na “Carta do Caminho”: “se não chegar à sala de aula e não afetar o que ali acontece com o aluno, o movimento simplesmente não chegou a lugar algum, e, portanto, carece de razão, não merecendo sequer existir”.
FORÇAS FORTES TRANSFORMARAM O ESPAÇO
O que faz a diferença entre os dois paradigmas descritos (segunda metade do séc. XX e primeiras décadas do séc. XXI)?
Alguns fatores explicam a diferença e mostram que a mudança é irreversível:
Políticas públicas consistentes e sistemáticas resultaram na universalização da matrícula no ensino fundamental (quase 100% das crianças estão na escola, na idade certa).
Aumento expressivo do comprometimento da sociedade civil (empresas e fundações) com a educação; inúmeras ações de parcerias estão sendo implementadas.
Criação de sistemas de avaliação de aprendizagem de classe mundial, a exemplo do IDEB e do PROALFA, possibilitando entender e corrigir as falhas, cobrar resultados e premier os êxitos.
Intercâmbio de práticas pedagógicas e de gestão suficientemente robustas para melhorar a aprendizagem; as escolas estão aprendendo umas com as outras.
Criação do FIES, viabilizando a formação superior para milhões de jovens de famílias pobres.
Consciência ampliada de que, sem uma educação de qualidade para todos, o Brasil não realizará suas potencialidades – equidade social, desenvolvimento sustentável e inserção competitiva na economia internacional.
Esse conjunto de fatores, atuando de forma orquestrada e sem pausa, permitirá alcançar desafiadoras metas de aprendizagem na próxima década, ao comemorarmos o Bicentenário da Independência. Estamos falando de uma maratona e não de uma corrida de 100m rasos.
Palíndromo
Caderno Educação
Autor: Evando Neiva
Agosto/2013